O dia 29 de janeiro marca em todo o Brasil o Dia da Visibilidade Trans. A data é muito significativa para a luta diária de travestis e transexuais de todo o país. O discurso conservador capitaneado pelo presidente da República e membros do atual governo federal tem aprofundado o cenário de intolerância no Brasil.

 

Para a diretora regional do Sindicato dos Bancários de BH e Região e secretária de Juventude da Fetrafi-MG, Bianca Lourenço, o mercado de trabalho ainda é o maior desafio para a comunidade trans.

 

“Por mais que esse fale em aceitação sabemos que o preconceito ainda é velado e enraizado na sociedade. Tenho muitas amigas trans que entregam currículos e a pessoa espera elas virarem as costas para rasgar e jogar no lixo – simplesmente por preconceito e discriminação”, relata.

 

Concursada da Caixa Econômica Federal desde os 18 anos de idade, Bianca conta que esperou passar no concurso e ser aprovada no estágio probatório para iniciar sua transição. “Tenho orgulho de ser uma transexual concursada. Não é todo dia que você entra em uma agência e vê uma transexual atrás de um guichê. Infelizmente, para muitas mulheres trnas as únicas são a prostituição ou o salão de beleza. Conheço muitas pessoas que estão na prostituição como único recurso”.

 

Segundo ela, o discurso conservador religioso ainda é imbuído de muito preconceito. “A questão religiosa está muito impregnada de preconceito. No portal interno do banco são postadas constantemente matérias sobre LGBTs e Transexuais. Vemos os comentários de outros empregados, que não têm vergonha alguma de escrever, mesmo aparecendo o nome e a matrícula deles, que ‘isso não é coisa de Deus’, que as pessoas que fazem isso ‘vão para o inferno’, que ‘é pecado’, que somos uma ‘abominação aos olhos do Senhor”, explica.

 

A dirigente sindical afirma que mesmo passando por situações difíceis durante sua transição conseguiu impor respeito no ambiente de trabalho. Falando do lado positivo, tive uma aceitação muito grande, mesmo porque impus respeito. Quando estava no começo da minha transição eles ficavam me chamando do nome antigo. Os recursos humanos do banco sempre permitiu que nós colocássemos no crachá o nome que sentíssemos mais confortáveis. Mesmo assim algumas pessoas me chamavam pelo nome antigo porque diziam que eu ainda não tinha trocado judicialmente. Até que um dia eu disse ‘ou vocês me chamam de Bianca ou eu vou abrir uma auditoria interna contra vocês’. Aí ninguém mais me desrespeitou”.

 

Bianca reforça que o respeito é a base para a inclusão das pessoas transexuais na sociedade. “Se você respeita uma pessoa trans, você pode dar para ela oportunidade, pode inseri-la no mercado de trabalho. Respeitando essa pessoa você dá a ela dignidade como ser humano, que é o que todo mundo merece”.

 

Em relação às instituições bancárias, ela explica que existem duas situações distintas: os públicos e os privados. “No caso dos bancos privados precisamos de mais contratações. Precisamos que essas instituições dessem mais oportunidades. É claro que tem a questão da capacitação e qualificação, mas é muito importante que essas pessoas tenham o direito às mesmas oportunidades de quem não é trans”.

 

“No movimento bancário como um todo o mais importante são as oportunidades. O mercado de trabalho para essas pessoas é importantíssimo porque é através dele que elas tiram o sustento das suas famílias. As pessoas trans já são tão massacradas pela sociedade que se elas não tiverem o mínimo de respeito e dignidade como irão se sentir integradas?”, conclui.

 

Por Mariana Viel, da redação da Fetrafi-MG

Fotos: Sindicato dos Bancários de BH e Região