Desde o início da pandemia da Covid-19, em março deste ano, a categoria bancária exerceu um papel de destaque na redução dos impactos da crise na vida de milhões de brasileiros. Apesar da dedicação de milhares de bancárias e bancários em Minas Gerais e no restante do país, diversas instituições financeiras romperam o compromisso de não demissão firmado com as entidades representativas – promovendo desligamentos em agências.

Dados apontam que o Banco Itaú, sozinho, demitiu cerca de 300 trabalhadores e trabalhadoras em todo o Brasil durante a pandemia. Segundo o Dieese, o banco registrou o fechamento de 818 postos de trabalho em 12 meses. Enquanto demite e desampara centenas de famílias, o Itaú registrou Lucro Líquido Recorrente de R$ 8,117 bilhões no 1º semestre de 2020.

Em entrevista ao site da Fetrafi-MG, o presidente do Seeb-BH e membro do Comando Nacional, Ramon Peres, que também é funcionário do Itaú, falou o processo de negociação com o banco, as mobilizações virtuais e os efeitos das demissões na categoria. Acompanhe

Para defender o emprego, denunciar as demissões, pressionar pela interrupção do processo de desligamentos e cobrar a reintegração dxs funcionárixs, a Contraf-CUT, a Fetrafi-MG e o Sindicato dos Bancários de BH e Região Metropolitana (Seeb-BH) têm promovido uma série de mobilizações nas mídias sociais.

 

Fetrafi-MG – A garantia do emprego tem sido a principal pauta de negociação da Comissão de Organização dxs Empregadxs (COE) do Itaú com o banco. Mesmo depois de assumir o compromisso de não demissão durante a pandemia o Itaú tem dispensado funcionárixs em todo o Brasil. Como está o processo de demissões?

Ramon Peres – O Itaú segue demitindo bancárias e bancários em todo o Brasil, mesmo tendo assumido o compromisso de não demitir e se apresentando nas propagandas como um banco humano e que tem responsabilidade social. Como desde a Reforma Trabalhista as homologações não são mais realizadas no Sindicato temos ainda mais dificuldade para acompanhar o número real de demissões, mas sabemos que o processo continua. O Sindicato vem denunciando que é inaceitável que um banco que lucra tanto, à base do esforço diário dos funcionárixs, demita pais e mães de família durante uma crise sanitária tão grave.

 

Quais são as dimensões dessas demissões no estado de Minas Gerais?

Ramon Peres – Estamos vendo demissões principalmente em Belo Horizonte, mas também em outras cidades como Uberaba. Em todo o Brasil, o número total já ultrapassa 300 funcionárias e funcionários demitidos. Como se não bastasse demitir centenas de pessoas, o Itaú está também fechando agências em várias cidades, como BH, Santa Luzia, Ouro Preto, Betim e Além Paraíba, prejudicando o acesso da população aos serviços bancários.

 

Enquanto presidente do Seeb-BH e membro do Comando Nacional, como você analisa o processo de negociação? Quais são as justificativas do banco para prosseguir com as demissões mesmo lucrando? Qual é o contraponto e as reivindicações das entidades representativas?

Ramon Peres – O Itaú alega que as demissões ocorreram somente na área de Veículos mas, com base nas informações apuradas pelos sindicatos, sabemos que estão demitindo mais trabalhadores, atingindo cargos de gerência e inclusive caixas nas agências. Nas negociações, cobramos transparência do banco sobre a real situação dos desligamentos e explicações plausíveis para a demissão inclusive de trabalhadores doentes ou que receberam prêmios por bom desempenho. Queremos que os bancários de agências fechadas sejam realocados e que sejam revistas as demissões feitas até agora. As entidades sindicais querem deixar bem claro para o banco e para toda a sociedade que não é aceitável essa irresponsabilidade. Quem lucrou R$ 28 bilhões em 2019 não pode agir desta forma, tem que ter responsabilidade social e respeitar os trabalhadores, principalmente depois de ter assumido compromisso público de não demitir durante a pandemia.

 

A categoria bancária, através da Contraf-CUT, da Fetrafi-MG e dos sindicatos, tem utilizado as mídias sociais para mobilizar e denunciar as demissões e ameaças a outros direitos dos trabalhadores. Como você analisa essa presença digital nas mídias sociais?

Ramon Peres – No momento que estamos vivendo, em que não é possível promover aglomerações e grandes atos nas ruas, as redes sociais são nossa principal ferramenta para pressionar os bancos e ampliar a luta. É por meio dos tuitaços que conseguimos “furar a bolha” e expor nossas pautas para toda a sociedade, deixando claro que a defesa dos trabalhadores e de um setor bancário que realmente pense nas pessoas é uma luta de todos. Temos conseguido bons resultados nessa mobilização, que precisa do engajamento da categoria e das entidades sindicais para chegar a cada vez mais pessoas. Como dissemos em nossa Campanha Nacional deste ano, a distância não nos limita e adaptamos nossas ações para continuar mobilizados e fortes mesmo durante a pandemia.

 

Quais são as orientações para os bancários e as bancárias demitidos?

Ramon Peres – Como citado anteriormente, a reforma trabalhista trouxe grandes prejuízos para os trabalhadores e um deles foi o fim das homologações nos sindicatos. Isto dificulta que possamos acompanhar de perto todas as demissões, mas nossa entidade está aberta para atender bancárias e bancários que precisem de mais esclarecimentos e para garantir que os direitos sejam respeitados. Por isso, pedimos que funcionárias e funcionários que tenham sido desligados e tenham dúvidas procurem o Sindicato, pelo telefone ou pelo nosso serviço de “Fale Conosco” online, para serem orientados.