Nos dias 19, 20 e 21 de maio, bancárias e bancários da base de BH e região irão decidir, através do voto virtual, o futuro da categoria e do Sindicato. Em meio à pandemia do Covid-19, o calendário eleitoral foi mantido e a votação eletrônica instituída para proteger a saúde dos trabalhadores. Segundo o bancário do Itaú e coordenador estadual da COE Itaú-Unibanco, Ramon Peres, candidato à presidência do Sindicato, proteger a vida e a saúde da categoria são alguns dos principais compromissos da Chapa 1-CUT.

 

Em entrevista à Fetrafi-MG, Ramon Peres falou sobre alguns dos principais temas que envolvem a categoria como a atuação do Sindicato diante à pandemia do coronavírus, a defesa dos bancos públicos, a luta contra a MP 905, os desafios de representatividade do movimento sindical, a negociação da Convenção Coletiva de Trabalho, a defesa da saúde e do emprego da categoria. Acompanhe a íntegra da entrevista.

 

Fetrafi-MG: A Pandemia do Covid-19 trouxe desafios para os bancárixs. Assim como os milhões de profissionais da área da saúde e outras categorias essenciais, os bancárixs estão na linha de frente da luta para amenizar os reflexos da pandemia na vida população. Como o Sindicato de BH e Região tem atuado na atual conjuntura?

Ramon Peres – Desde o início da crise do coronavírus o Sindicato, juntamente com a Contraf-CUT, pressionou os bancos por medidas rápidas para combater a pandemia. A pressão e a cobrança diária por ações efetivas garantiram, dentre várias ações, a criação de um Comitê de Crise com os bancos para acompanhar a situação. As negociações asseguraram mais de 250 mil bancários em teletrabalho; a suspensão das demissões nos cinco maiores bancos privados; o rodízio de funcionários nas agências; o controle do acesso às agências para combater aglomerações, o fornecimento de equipamentos de proteção, o reforço na limpeza das unidades de trabalho, a antecipação das campanhas de vacinação contra a gripe, entre outras ações. Em constante negociação com a Fenaban, o Sindicato e demais entidades representativas, articuladas no Comando Nacional dos Bancários, tem cobrado mais medidas de proteção para a categoria.

 

Especialistas falam de uma “nova normalidade” quando o pico de contaminação do Covid-19 passar. Como essa “nova normalidade” vai interferir no dia a dia das agências? Qual será o papel do Sindicato nessa nova realidade?

Quando a chamada “nova normalidade” vier Sindicato continuará o trabalho para resistir e garantir conquistas históricas da CCT. No dia a dia das agências, sabemos que a readaptação deve ser gradual. O Sindicato estará ao lado dos trabalhadores para impedir medidas drásticas que coloquem em risco funcionários, clientes e usuários. Acompanharemos cada etapa do retorno às atividades e aos horários de funcionamento. Cobraremos também que sejam respeitados os direitos de todos os bancários e bancárias do grupo de risco que ficaram afastados e daqueles que fizeram rodízio. A situação que vivemos não tem precedentes e ainda não sabemos exatamente o que está por vir. O Sindicato seguirá na defesa da saúde, do emprego, de melhores condições de trabalho e de mais direitos.

 

A defesa dos bancos públicos também ganhou força durante a pandemia – principalmente em função do papel da CEF no pagamento do auxílio emergencial. Qual é a importância dos bancos públicos para o país?

O Sindicato sempre defendeu os bancos públicos como um dos principais instrumentos de fomento ao desenvolvimento do Brasil. O BB sempre teve um papel fundamental no incremento das políticas agrícolas do governo, no investimento da agricultura familiar e no financiamento ao pequeno agricultor. Já a CEF desempenha um papel fundamental na vida dos brasileiros, principalmente na população de baixa renda.

Com a pandemia, a Caixa deixou de ser vista pelo governo federal como privatizável e passou a ser imprescindível. Na atual situação do mundo, que é grave, a estratégia de desmonte e de privatização está caindo por terra e muitos brasileiros percebem que só o setor privado não será capaz de salvar o país. Os bancos públicos precisam ser ainda mais fortalecidos para que possamos lidar com a pandemia e seus efeitos posteriores. Esta sempre foi e continuará sendo nossa bandeira.

 

Há uma grande preocupação da categoria em relação à redução do quadro de funcionários em atividade nas agências. A falta da realização de novos concursos, o afastamento de trabalhadores adoecidos e os programas de aposentadoria têm gerado uma sobrecarga nas agências. Como resolver essa situação?

O Sindicato sempre teve como prioridade a defesa do emprego, mais contratações para colocar fim à sobrecarga de trabalho, combate às cobranças por metas abusivas e ao assédio moral. Enfrentamos, com firmeza, a terceirização e a precarização do trabalho. Os bancos, que lucram tanto no Brasil ano após ano, precisam ter responsabilidade social e não podem contribuir para que o desemprego se aprofunde ainda mais. É preciso colocar a vida à frente do lucro e, na atual crise, os bancos devem contribuir mais.

 

A aprovação da Reforma Trabalhista, em 2017, e as recentes edições de medidas provisórias pelo governo Bolsonaro, como a MP 905, têm impactado diretamente na categoria. Como o sindicato tem se organizado para a defesa dos direitos dos bancários?

A organização da categoria é nacional e daí vem a nossa força. Sempre nos articulamos, em todo o país, para mobilizar as bases dos sindicatos e promover atos e diversos tipos de protestos. Também atuamos juntamente com outras entidades e movimentos sociais, além de conversar com parlamentares e pressionar o Legislativo contra as medidas prejudiciais aos trabalhadores. Em BH e região, atuamos na conscientização e na mobilização, seja na categoria ou na sociedade em geral. Estamos sempre nas ruas fazendo atos e conversando com os trabalhadores.

Precisamos deixar claro que a jornada de 6 horas é uma conquista para uma categoria que sempre sofreu com o adoecimento e a pressão pelos lucros. Não se trata de um privilégio, mas de um direito. Defendemos, que a população tenha mais acesso aos serviços bancários, mas isso deve ocorrer de outras formas, como a implantação de dois turnos de trabalho e mais contratações. Nunca aumentando ainda mais a pressão sobre o trabalhador.

 

A categoria bancária está entre as categorias com maior índice de afastamentos no INSS. Quais são as iniciativas para a promoção da saúde e do bem-estar da categoria?

Temos números muito elevados de LER/Dort e, mais recentemente, de adoecimento mental. Essa situação preocupante ocorre, principalmente, pela busca irresponsável dos bancos por lucros cada vez maiores às custas de seus funcionários. Promover a saúde e o bem-estar é também combater arduamente as metas abusivas e as pressões de gestores nas unidades de trabalho. É acompanhar de perto a situação das unidades de trabalho para denunciar e impedir abusos.

Além disso, temos um Coletivo Nacional de Saúde que discute permanentemente com a Fenabam estratégias e programas de prevenção ao adoecimento de bancárias e bancários. No Sindicato, temos um Departamento de Saúde para instruir, acompanhar e defender os direitos de trabalhadores acometidos por doenças. Enfim, a saúde da categoria é discutida em todos os âmbitos da nossa organização e é uma prioridade do movimento sindical bancário.

 

O movimento sindical passa por uma crise de representatividade – principalmente em função do novo perfil do trabalhador brasileiro. Quais são as propostas da Chapa 1- CUT para envolver mais trabalhadores na vida do sindicato?

A organização dos trabalhadores sempre foi muito ligada à rua, ao contato pessoal e à mobilização nos próprios locais de trabalho. Atualmente, com a vida das pessoas cada vez mais corrida e com o uso frequente das redes sociais e de aplicativos de mensagens, o Sindicato também está se renovando e ocupando estes novos espaços. Grande parte da categoria bancária nasceu depois da invenção da internet e precisamos dialogar com esses trabalhadores de uma maneira eficiente e na linguagem deles. Precisamos estar onde a categoria está, falar a língua da categoria e estar atentos às reais demandas de bancárias e bancários.

As visitas aos locais de trabalho e a mobilização nas ruas serão sempre essenciais para o movimento sindical, mas temos que abrir mais canais de comunicação com os trabalhadores para que estejamos sempre unidos. Bancárias e bancários têm que saber e sentir que o Sindicato são eles, que o Sindicato é o seu “porto seguro”, é sua esperança e que o é feito por todos nós. Só com essa união é possível fortalecer nosso movimento e conseguir avanços para os trabalhadores.

 

Em sua opinião quais são os maiores desafios da categoria, na atualidade?

Assim como em outras categorias, os bancários estão vendo muitas mudanças na organização do trabalho com o surgimento de novas tecnologias e a digitalização dos processos. Temos que lutar contra a precarização do trabalho. Nos últimos anos, o que vimos foi uma série de ataques à CLT e aos direitos conquistados pelos trabalhadores brasileiros. Com a justificativa de gerar empregos, governos neoliberais pretendem destruir a força das negociações coletivas e individualizar os acordos entre patrões e empregados. Nessa dinâmica de forças, é claro que os patrões poderão impor empregos com salários menores e menos garantias para os trabalhadores. Por isso, temos como desafio a manutenção da CCT nacional e da mesa única de negociação com os bancos, sem permitir retrocessos.

 

Como é a feita a negociação com a Febraban e quais foram os principais direitos assegurados na última CCT dos bancários?

O acordo de dois anos se mostrou um grande acerto da nossa organização nacional. Foi ele que permitiu a manutenção de todos os direitos durante duros períodos, como a implantação da reforma trabalhista de 2017 realizada pelo governo Temer e o primeiro ano do governo Bolsonaro, com Paulo Guedes na economia e um projeto claro de desmonte de direitos e conquistas. Além disso, asseguramos aumento real em 2019, o que foi conquistado em menos da metade das negociações coletivas no ano passado. Houve reajuste acima da inflação inclusive na Caixa e no Banco do Brasil, bancos públicos federais, pagamento de PLR e manutenção de todas as 60 cláusulas da nossa Convenção Coletiva.

A CCT dos bancários é exemplo para todos os trabalhadores brasileiros e representa a força da nossa categoria. Ela é nacional e garante direitos iguais para toda a categoria. Nossa organização e unidade permitiram a construção de um Comando Nacional representativo, que negocia com os bancos públicos e privados em uma mesa única. Essa organização é reconhecida até mesmo pelos representantes da Fenaban e é o que nos dá força para pressionar os bancos para que atendam às nossas reivindicações.

 

A composição da Chapa 1 do Sindicato dos Bancários de BH e Região traz um misto de renovação e de nomes experientes da luta sindical da categoria. Qual é a importância dessa renovação para o sindicato?

Para construir um Sindicato forte e atuante é preciso contar com a experiência daqueles que conhecem a luta sindical e a organização nacional da nossa categoria, assim como as negociações com os bancos. Porém, a renovação é essencial para trazer nova energia para o Sindicato. É a renovação que impede que a entidade sindical se imobilize e repita sempre os mesmos padrões. Novos diretores e diretoras trazem novas formas de ver nossa atuação e contribuem para que o Sindicato siga vivo e se reinventando, buscando estar cada vez mais próximo da categoria.

 

Por Mariana Viel, da redação da Fetrafi-MG