Por Robson Marques*
O Brasil parou neste último mês face a greve dos caminhoneiros. Os meios de comunicação a todo o momento traziam em seus noticiários a mobilização desta categoria que até pouco tempo não chamava a atenção, exceto em 2013 quando também se organizaram. Observamos, no entanto que a adesão à paralisação nem sempre foi por reconhecer legítimas as reivindicações, muitos foram obrigados a permanecerem estacionados nos acostamentos e em pátios nas estradas.
Bem, as categorias até os dias atuais usa a greve como a última alternativa para atingirem seus propósitos de ampliar e ou manter seus direitos. Nesta greve, em particular, o braço forte da burguesia, ou melhor, o braço forte do patronato se infiltrou com intuito de tirar vantagem à custa dos trabalhadores. Importante aqui enfatizar que em 2013 o preço médio do diesel cobrado era de R$ 2,19 o litro, gerando manifestações desta mesma categoria. No entanto de após o golpe de 2016 não ouvimos mais falar dos caminhoneiros, embora o preço médio do diesel tenha se elevado 58%, R$ 3,48 o litro.
Entendamos então, em pouco mais de 60 meses, num país onde o governo diz haver uma inflação controlada o combustível aumenta quase 60% e só após isto há uma reação. Nenhuma categoria de trabalhadores obteve, neste período, um reajuste em seus salários tão vultosos. Tal comportamento tende a ser de fato caracterizado como locaute e político, primeiro para reduzir os custos dos empresários e segundo para, assim como com a Dilma, derrubar o governo.
Enfatizo aqui, que não defendo este governo golpista, mas salta aos olhos uma consciência estratégica que acredito ser de alguns setores da burguesia brasileira. Infelizmente estamos em tempos sombrios, onde mentes e corações dos trabalhadores estão sendo disputados. De um lado a elite e o aparato midiático (a mídia forma opiniões) e de outro, aqueles que sempre defenderam o interesse da classe trabalhadora (movimentos sociais, sindicatos, partidos de esquerda, intelectuais progressistas).
Nesta guerra os trabalhadores estão perdendo, perdem a consciência de si, perdem a esperança de dias melhores, perdem o juízo ao acreditarem que a volta dos militares no poder seria a solução.
Os nossos patrões – cujo nome não deve ser dito banqueiros (considero-os como os patrões de todos os trabalhadores brasileiros, uma vez que seus tentáculos estão espalhados por todos os setores, da economia, da educação, da política) – nas eleições de 2014 custearam várias campanhas eleitorais e elegeram uma enorme bancada. A maioria dos atuais deputados e deputadas votou pelo impeachment da presidenta Dilma, e por duas vezes blindaram o Temer.
Este movimento dos deputados foi para garantir as reformas contra os trabalhadores, reformas estas que os banqueiros tanto sonham para ampliarem seus já expressivos lucros.
A primeira foi a reforma da CLT, que afetou negativamente a classe trabalhadora. Seus direitos foram aviltados, infringidos, roubados, jamais passaria pela cabeça de qualquer trabalhador no ano de 2013 que perderiam tanto assim com esta “modernização das leis trabalhistas”. Só o fato das convenções coletivas não terem mais ultratividade (todas as cláusulas perdem validade ao término da vigência) já demonstra quão danosa foi esta mudança. Temos ainda a PEC do teto dos gastos públicos, com o congelamento por 20 anos do que chamam de gastos públicos com educação, assistência e saúde. Se hoje os recursos destinados para estes setores são insuficientes, imaginem como será daqui a 5, 10, 20 anos, voltaremos ao século XIX.
A segunda é a reforma da previdência, querem que acreditemos na quebra do sistema previdenciário brasileiro. Já foi provado através de uma CPI encabeçada pelo senador Paulo Paim/PT que nossa previdência é superavitária. No entanto a mídia propaga o perigo do apagão previdenciário. Como pano de fundo o interesse dos bancos pela a ampliação da previdência privada.
Acho justa toda e qualquer manifestação, mas não podemos fechar os olhos para o que há além das ruas. É necessário atenção de todos nós. Precisamos nos reconhecer como classe trabalhadora assalariada e assim lutar verdadeiramente contra a burguesia podre do Brasil.
Nossa campanha salarial já foi lançada, o patrão não está disposto a ceder. Somente a união, o respeito, a coragem de todos poderá arrancar dos banqueiros alguma ampliação, caso contrário, estaremos retrocedendo como diz o próprio governo golpista 20 anos em 2.
Como se não bastasse, o ministro da fazenda Henrique Meirelles (candidato à presidência pelo MDB), declarou que o governo está preparando a CAIXA para ser privatizada. Assim, nos resta a luta e nada mais. Conclamamos aos trabalhadores que reflitam com seriedade sobre a atual conjuntura, atendam ao chamado do sindicato e que, se assim for necessário, façamos uma greve forte, combativa demonstrando nossa disposição, nossa união, nossa resistência.
Todos por Tudo!
* Robson Marques – Diretor de Formação Sindical e Políticas Sociais do SINTRAF JF